quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Tudo que ele quer é voltar para a cadeia

(MARCELO NEGREIROS)

21/12/2007

Tentou roubar uma jovem para voltar a ter comida e um lugar para dormir dentro da prisão


Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2007, 11h30. Flávio Costa dos Santos, de 29 anos, desempregado, nascido e criado no bairro de Madureira. Sem casa, sem comida, sem nenhum familiar e apenas com a roupa do corpo, embarca em um ônibus, na Rua Monsenhor Feliz, no bairro de Irajá, da linha 716, que faz o trajeto Irajá – Cascadura, para tentar roubar qualquer passageiro. O objetivo: Voltar para a cadeia.
Nas grandes cidades e principalmente no Rio de Janeiro, é comum ver cenas de violência, assaltos, moradores de rua e também o desemprego. O que mais chama a atenção neste caso é o fato de uma pessoa desejar tanto ir para a cadeia.
Flávio já acumula quatro mandatos de prisão por furto, passando por presídios como o Esmeraldino Bandeira, em Bangu e Ary Franco, em Água Santa. - Tudo que mais quero é ser preso, voltar para a cadeia, ter comida, trabalhar -, disse Flávio.
O desejo de ser preso e retornar para a cadeia, fez com que ele cometesse o frustrado assalto na tarde de ontem. Ele abordou uma jovem de 16 anos, com uma faca de cozinha, que havia furtado em uma pensão, onde comeu na quinta-feira, tentando roubar seus pertences, mas acabou se sensibilizando com a menina.
Segundo ele, os dois conversaram e a jovem ainda chegou a oferecer o celular para ele ir embora. Ele contou que a intenção do assalto não era a jovem. Ao entrar no ônibus, se sentou ao lado de homem bem mais forte do que ele. Ficando este incomodado com a presença de Flávio, descendo do coletivo e avisando a um policial do GTM (Grupamento Tático Móvel).
O agente interceptou o coletivo, prendendo Flávio e o levando para 22ªDP (Penha). - Não quis roubar ninguém, nem levar nada, o meu objetivo era apenas retornar para a prisão -, desabafou o rapaz, muito bem articulado.
Na delegacia, ao prestar depoimento, ele disse que estava com muita fome, à única peça de roupa era a do corpo, e indo para a cadeia, teria o que comer.
Ainda da delegacia, recebeu uma quentinha, como um presente de natal antecipado, estampando em seu rosto, certa alegria. – Sempre que estive preso, eu trabalhava, ocupava meu tempo, tinha o que comer e principalmente, um lugar para dormir -, relatou o ansioso com a volta pra casa , a cadeia.
O inspetor de polícia, Hélio Lessa disse que Flávio Costa dos Santos responderá por tentativa de assalto, por ameaçar a vítima com uma faca. Ele será encaminhado para a Polinter e por não pertencer a nenhuma facção, será levado hoje para a 73ª DP (Neves), em São Gonçalo, aguardando seu destino.

3 comentários:

Kely Oliveira disse...

Inovação, originalidade e outros ingredientes a mais do meu caro amigo e praticamente já jornalista Marcelo, esteve presente em todo momento na matéria.

Desde o início a matéria conseguiu prender a atenção de quem ler. Foi uma história inusitada, diferente e bem articulada.

Particularmente gostei bastante!

É possui vc imaginar toda a história, que parece ficção. Mas, é vida real. Pensando bem, é possível fazer um filme também, rsrs...

Acredito que hoje em dia os valores estão invertidos. Como podemos ver em nossa sociedade atual. O CERTO se torna ERRADO e o ERRADO se torna CERTO.

Alguns polícias, deixando CLARO nunca generalizando, que devem proteger a população se envolvendo em corrupação.

É mais um cidadão que encontrou no erro a solução, uma oportunidade para garantir o pão de cada dia para os seus problemas.

OBS: A foto também ficou muito legal. Retratou muito bem o momento.

União bom repórter (escrita) + bom fotojornalista = Sucesso

Parabéns!

Kely Oliveira

Kely Oliveira disse...

MArcelo a pergunta que não quer calar!

Com certeza ele não está mais na delegacia de Neves. Então:

Qual é? Ou foi? Ou será o destino de Flávio?

Resposta: ?

Anônimo disse...

Marcelo, só tem q corrigir uma coisa, não foi o GTM não, foi uma moto-patrulha do 9º BPM. E realmente a história é real e muito triste. Embora fosse um personagem "do mal", estava lastimável, sujo e com fome. Ver um homem nesse estado deplorável, sem perspectivas de vida é extremamente preocupante no que será da vida dele quando sair da cadeia, assim como de outros que precisam de oportunidades, senão, voltam para o crime como quem vai em direção a "luz no fim do túnel", só que no final, só tem uma cadeia, uma cadeira de rodas e um caixão, resta saber qual será sua escolha.