quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Mães de vítimas da violência urbana se encontram na Tijuca

(MARCELO NEGREIROS)

25/11/2007

Foi realizado ontem o IV encontro do NAVI (Núcleo de Apoio à Vítima), organizado por Maria José Amaral, coordenadora do projeto, onde reuniu parentes de vítimas da violência urbana. O encontro aconteceu na casa de Ana Matheus, de 47 anos, na Tijuca, que perdeu o filho João, de 22 anos, atropelado quando voltava pra casa. O motorista foi para a delegacia e se recusou a fazer os exames para comprovar existência de bebida alcoólica. O acusado foi solto e nunca procurou a família para saber sobre o caso.

O encontro é realizado sempre todas as últimas sextas-feiras de cada mês no NAVI, que funciona do Detran. O objetivo é um apoio social, refletir sobre as leis, aproximar as pessoas que perderam algum parente, multi ajuda e muita solidariedade. No encontro, mulheres guerreiras, sofridas, mães em busca de justiça, que compartilham além da dor, muita alegria, almoço e uma apresentação de um grupo de alunos do Morro do Cantagalo.

Maria perdeu a mãe a filha atropelada em 2000, assim criando este encontro, ouvindo as pessoas, descobrindo necessidades e sentimentos de cada uma. “É difícil, pois algumas pessoas estão desesperançadas e o objetivo é que elas saibam que alguém possa a ouvir”, disse a coordenadora.
O núcleo age com um fortalecedor para essas pessoas, onde elas precisam relatar a dor da perda de um familiar, sendo importante que falem e que tenham compreensão e se enxerguem como cidadão, não apenas uma vítima de trânsito ou da violência. Se a vítima desejar abrir um processo administrativo, ela é encaminhada ao DPVAT (Danos pessoais provocados por veículos autoterrestres), em caso de acidente de trânsito.

O núcleo de Apoio possui um canal de atendimento, onde as pessoas que vivem esta situação, desejando podem entrar em contato através do telefone 3399-1722, relatar a sua história e quem sabe, se juntar ao Núcleo.

histórias de dor

Elizabete Flaurinda da Silva, de 56 anos, faz parte do atendimento telefônico do Núcleo, perdeu um filho de 19 anos em 2002, vítima de imprudência no trânsito. Ela conta que seu filho estava abastecendo em um posto de gasolina em Bonsucesso, quando um motorista de 60 anos, fugindo da polícia, bateu no carro dele. Ele foi detido na hora do acidente e levado para a delegacia, sendo liberado 12 horas depois. Atualmente, o acusado mora em Cabo Frio, na Região dos Lagos.
Josiane Cristina, de 38 anos, perdeu a filha assassinada na Ilha do Governador, no Morro do barbante, após ser envolver com o chefe do tráfico do morro, que tinha um caso com a traficante Rose Peituda. Rose teria se vingado da jovem, que se apaixonara pelo chefe do tráfico do Morro do Barbante, na Ilha, com quem era casada. A vítima teria sido torturada, esquartejada e queimada no alto do morro.
O corpo de Taís teria sido enterrado num cemitério clandestino numa área conhecida como Amendoeira, na parte alta do morro. No entanto, não foi encontrado. Silvia acusa a mulher do então chefe do tráfico pelo crime. Contra a vontade da mãe, a filha namorava o bandido, que conhecera num baile funk. O romance já durava quatro meses quando a jovem foi seqüestrada. “A polícia encontrou a milha filha e o namorado dormindo num barraco. A Taís foi liberada, mas pôde escutar quando ele foi morto. Depois, ela me ligou e disse que não podia sair de lá naquela hora, porque podiam achar que ela era X-9 (informante da polícia), recorda Silvia.
O Policial Thiago Pinheiro Castro, filho de Francilene Pinheiro, era oficial de cartório da Policia Civil, e foi assassinado covardemente por bandidos em Cascadura, Zona Norte do Rio, em 22 de dezembro de 2006. Ele foi deixar dois amigos no bairro, como sempre fazia, quando foi assaltado, os bandidos viram a arma do policial e o mataram pelas costas, sem ter tempo de defesa. Segundo Francilene, ele ainda pediu para liberar os amigos e levar seus pertences, mas por ser policial, os bandidos o mataram. O caso foi investigado na 37 DPª (Campinho) onde trabalhava.
Zoraide Vidal também perdeu sua filha assassinada brutalmente em 2006. A policial civil Ludmila Maria Fernandes Fragoso, 24 anos, Depois de ser torturada e baleada na cabeça, a policial teve o corpo carbonizado. O crime chocou até delegados e inspetores, profissionais que convivem com a violência. Na polícia desde 2003, Ludmila trabalhava como oficial de cartório na 22ª DP (Penha). Na noite do assassinato, ela saiu do trabalho e seguiu para o curso preparatório de delegado, na Tijuca. Depois da aula, Ludmila foi à casa da mãe, no Grajaú. Quando retornava para casa, em Imbariê, por volta das 23h de quinta-feira, ela enfrentou engarrafamento na Avenida Brasil e ligou para a mãe para saber o motivo do trânsito ruim. A mãe teria explicado que era devido à morte do desembargador José Maria de Mello Porto. Em seguida, a policial ligou para o marido avisando que iria chegar atrasada por causa do engarrafamento. Estes foram os últimos contatos de Ludmila com a família.

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