segunda-feira, 19 de maio de 2008

Delegado morto a sangue frio dentro de supermercado

Titular da 20ª DP foi executado com tiro à queima-roupa na nuca quando ia comprar pão no Recreio, onde morava. Policiais consideram o assassinato um crime contra a instituição e prometem reagir

Responsável por investigações sobre o envolvimento de policiais em milícias na Favela Kelson´s quando estava à frente da 22ª DP (Penha), o delegado Alcides Iantorno de Jesus, de 66 anos, titular da 20ª DP (Vila Isabel), foi executado com um tiro na nuca, na manhã de ontem, ao entrar em um supermercado no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio.
O assassinato aconteceu às 8h15min, logo após a vítima sair do plantão em sua delegacia. Dois homens em um carro teriam seguido o policial até o supermercado Zona Sul, na Avenida das Américas, uma das vias mais movimentadas da região, onde, como era hábito, compraria pão e tomaria café da manhã.
Iantorno morava próximo ao local do crime. De acordo com testemunhas, um dos bandidos, que usaria um boné, óculos escuros e teria os cabelos grisalhos, desceu do veículo e atirou no delegado à queimaroupa. O tiro atingiu a nuca da vítima, que morreu na hora. Um segundo disparo teria sido feito para alto.
Logo depois, os pistoleiros saíram no carro em alta velocidade. Fitas estão com a polícia A ação dos marginais foi registrada pelo circuito interno do supermercado, e as fitas já estão sob o poder da polícia. No entanto, o trabalho será dificultado devido à má qualidade das imagens.
Segundo a delegada Valéria de Castro, amiga e companheira de delegacia da vítima há muito tempo, a hipótese de roubo já foi completamente descartada, hajam vistas as características do crime.
— Foi uma execução. Nada foi levado dele. Vamos analisar as imagens, mas também temos testemunhas que nos ajudarão. Isso não foi um crime contra o doutor Alcides, mas contra a Polícia. Não foi um crime pessoal. Se é alguma coisa contra alguma investigação, isso é um crime contra a instituição.
Ele era um homem de paz, não costumava andar armado — disse, emocionada, Valéria, uma das primeiras colegas de trabalho a chegar ao local do crime, lotada na 61ª DP (Xerém). Quem também esteve no local foi o ex-diretor da Divisão Anti-Seqüestro, delegado Fernando Moraes, para quem o crime também foi uma afronta.
— Isso foi um crime contra a sociedade. Para mim, o policial é o defensor da sociedade, o seu guardião. Quando alguém chega ao ponto de atacar o guardião, é porque a sociedade está muito desprotegida — afirmou Moraes, que deixou a titularidade da DAS por ter pretensões políticas. O sepultamento acontece hoje, às 10h, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.

Delegacia de Homicídios assume o caso

O chefe de Polícia Civil, delegado Gilberto Ribeiro, disse que a Delegacia de Homicídios irá auxiliar a 16ª DP (Barra) nas investigações sobre a morte do delegado. O policial afirmou que Alcides Iantorno não vinha recebendo ameaças, o que foi confirmado pelo irmão da vítima, Milton Iantorno.
O delegado Alan Turnowsky, diretor de Polícia Especializada, também acompanha as investigações. Alcides Iantorno de Jesus tinha mais de 40 anos de Polícia Civil. Tomou notoriedade ao assumir a Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), há 10 anos, época em que a delegada Valéria de Castro era sua adjunta.
Esteve à frente da 29ª DP (Madureira),recentemente, passou pela 37ª DP (Ilha do Governador) e foi diretor da Polinter, para onde levou toda a sua equipe, e, em seguida, transferido para 22ª DP (Penha), onde começou a investigar e identificar milicianos que agiriam na região.
Casado e pai de dois filhos, um deles também policial civil, Iantorno, como era conhecido, também participou de outros casos importantes como o cerco e a prisão ao traficante Elias Maluco em 2002.

Investigação sobre milícias após denúncia

Além da ação de milicianos na Zona Norte, o delegado também comandava as investigações sobre o seqüestro e assassinato do líder comunitário Jorge Silva Siqueira Neto no ano passado.
De acordo com a denúncia do líder comunitário, a milícia ocupou a Favela Kelson's em novembro de 2006. Em fevereiro do ano seguinte, nove pessoas, sendo três moradores, cinco traficantes, um policial militar apontado como chefe da milícia morreram em uma investida frustrada dos traficantes para retomar a comunidade.
Na ocasião, as investigações de Iantorno apontaram que além da disputa com os traficantes existiria também uma disputa interna entre os milicianos. Em agosto daquele ano, quatro policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar de Olaria foram presos sob a acusação de chefiar a milícia local.
Dois dias depois, um sargento da PM e um traficante morreram em uma nova tentativa de invasão. Na semana passada, o delegado- titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Cláudio Ferraz;
Admitiu que investigava os milicianos pela suposta venda por R$ 300 mil do controle da Kelson's para traficantes do Comando Vermelho, que voltaram a atuar no local. A loja em que o policial foi morto ficava a poucos metros de sua residência. As favelas do bairro também são dominadas por milicianos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tolerância zero com a bandidagem , não podemos continuar a tolerar fatos como o que foi denunciado na reportagem neste blog , a sociedade de bem precisa acordar e exigir das autoridades uma dura resposta contra o crime.