quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sucesso predador

Em abril, a atriz britânica Stephanie Parker, de 22 anos, foi encontrada enforcada 2 dias após o encerramento da série "Belonging", que ela estrelava desde os 15 anos. A mesma atitude radical foi tomada, em 2004, pelo ator norte-americano Jonathan Brandis que, aos 14, fizera sucesso com o filme "A História Sem Fim II". Um desfecho trágico para astros mirins que não suportaram a perda da fama.
Mas o sucesso e a exposição exagerada na mídia atingem as crianças de várias outras formas. Muitas crescem rodeadas por escândalos ou se envolvem com drogas. Em 1993, o ator River Phoenix, estrela do filme "Conta Comigo" (1986), sofreu uma overdose, quando tinha 23 anos.
A cantora norte-americana Britney Spears é outro exemplo clássico dessa mistura de fama e imaturidade. Ela começou a trabalhar aos 11 anos no programa de televisão "The Mickey Mouse Club" e, em 1997, deu início a uma carreira de cantora, que a fez vender mais de 90 milhões de álbuns. Diante de tanto sucesso, no entanto, a artista, hoje com 27 anos, se envolveu em vários escândalos e foi internada várias vezes em clínicas de reabilitação de drogas. Em vez de apoiar a filha, Lynne Spears, mãe de Britney, tratou de aproveitar a fama para lucrar com um livro em que revela detalhes da formação conturbada da jovem.
Aqui no Brasil, a fim de evitar que histórias como essas se repitam mais uma vez, o Ministério Público do Trabalho entrou com ação, em maio, contra a emissora de televisão "SBT", exigindo o pagamento de R$ 1 milhão de indenização por desrespeito às leis trabalhistas, ao empregar a menina Maísa Silva, de 7 anos, como apresentadora. Por sua vez, o Juizado de Menores de Osasco (SP) cassou a licença para ela aparecer no "Programa Silvio Santos", motivado pelo fato de a garota ter aparecido chorando várias vezes.
O problema principal é que o trabalho infantil na música, no cinema e na televisão, na maioria das vezes, vem acompanhado de muito dinheiro, o que leva vários pais a, em vez de prezarem pela formação e a imagem dos filhos, verem as crianças como verdadeiras "minas de ouro". Foi o que aconteceu com o ator Macaulay Culkin. Dos 10 aos 12 anos, ele ganhou US$ 17 milhões (R$ 34,4 milhões) com dois filmes da série "Esqueceram de Mim". Porém, foi só deixar de ser convidado para novos trabalhos que os pais passaram a brigar pela fortuna, a qual o garoto, que foi preso em 2004 por porte de drogas, ganhou o direito de administrar depois de muita confusão familiar.
Para evitar problemas assim, há uma lei nos Estados Unidos que obriga pais de artistas mirins a depositar 15% do que eles ganham num fundo que só poderá ser movimentado após os 21 anos de idade. A lei foi batizada de Jackie Coogan, ator que aos 5 anos foi descoberto por Charles Chaplin, com o qual fez cinco filmes. Já adulto, ele foi à Justiça exigir que a mãe devolvesse os milhões que ganhara.
"Muitos pais querem que o filho brilhe de qualquer jeito, criando em torno dele um excesso de cobrança. Não há porque não incentivar o talento, mas também são importantes as brincadeiras, a escola e a descoberta de outras aptidões. O apoio familiar é fundamental e, num contexto tão competitivo, um psicólogo ajuda a família e a criança a lidar com o êxito e a frustração", diz Isabel Kahn Marin, professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
O acompanhamento de um psicólogo provavelmente teria ajudado o cantor Michael Jackson a não passar de um talento promissor aos 5 anos, quando era do grupo Jackson Five, a um adulto acusado de pedofilia, refugiado num rancho e que pouco canta. O peso de ser o autor do disco mais vendido da história, "Thriller", com 120 milhões de cópias, parece ter sido insuportável para ele.
A obsessão dos pais pela fama e o dinheiro dos filhos também faz com que, muitas vezes, falte cuidado de não expor as crianças a cenas de violência e sexo. Aos 12 anos, Dakota Fanning protagonizou cena de estupro em "Hounddog", de 2007. Na época, ela declarou: "Sou uma atriz, é o que eu quero fazer". Ela já apareceu em 39 produções e recebe US$ 4 milhões (R$ 8,1 milhões) por filme.
Bem antes dela, Brooke Shields causou polêmica quando, com 13 anos, apareceu totalmente nua em "Pretty Baby" (1978). "Devemos fazer concessões diante do desenvolvimento de um talento, mas elas devem ser feitas com cautela, a fim de que as crianças não sejam expostas a situações de risco ou vexatórias", diz o desembargador Siro Darlan.
A cirurgiã-dentista Grace Mara Ramos Roseno Vidal, de 40 anos, mãe de Cássio Ramos, de 10 anos, que começou a atuar aos 2 anos e meio, e hoje interpreta Vavá, em "Promessas de Amor", da "Rede Record", diz que o filho recebe orientações para não se deslumbrar com a fama. "Sempre orientamos para que ele não pense que é diferente porque aparece na televisão. Agora, quando ele não quiser mais fazer, não fará. Não é correto uma criança ser obrigada a fazer algo forçado, nem a sustentar uma família. Quando não faz com prazer, ela fica frustrada e será um adulto que se envolve com coisas erradas."
Neta e filha de atores, a atriz Paloma Duarte começou a atuar aos 14 anos e não parou mais. Hoje, está em "Poder Paralelo", da "Record". Com relação às filhas seguirem o mesmo caminho, ela declarou, em entrevista à Folha Universal, de 8 de março de 2009: "Minha filha caçula fez uma participação curta numa novela e a deixei experimentar para ver como era. Mas ela teve outros convites e não deixei e nem deixaria por enquanto. Acho que são muito meninas e tem que ter outras preocupações no momento."
O mesmo destino de Paloma Duarte não tiveram crianças como Drew Barrymore que, aos 7 anos, estrelou "E.T. – O Extraterrestre" (1982). Após o sucesso no filme, ela entrou para o rol dos esquecidos. Mas deu a volta por cima em 1995, quando, após ser internada numa clínica de reabilitação, retornou ao cinema como estrela de comédias românticas.
Outro que conseguiu voltar à mídia foi o paulistano Luciano Nassyn, que, dos 11 aos 14 anos, fez parte do grupo musical Trem da Alegria, o qual deixou em 1988. "Minha mãe tomava cuidado para que o sucesso não subisse à cabeça", lembra. Ele foi vendedor de carros e trabalhou numa confecção até que, no início dessa década, voltou a se dedicar à música. E ganhou destaque cantando sucessos da infância e na internet, onde divulga o novo CD "Um Algo Além", com canções inéditas.

Por Guilherme Bryan
guilherme.bryan@folhauniversal.com.br

Nenhum comentário: